Cumprimos a nossa tradição!
Na sexta-feira, durante a manhã muitas crianças e graúdos acederam às nossas instalações para fazer cumprir o "Pão por Deus" e é com satisfação que cá estamos na defesa do que é nosso.
O Pão por Deus é uma tradição antiga, de raízes e fontes diversificadas, cuja veracidade é difícil, senão mesmo impossível confirmar.
Celebrada no dia 1 de novembro de cada ano, no Dia de Todos os Santos, é uma data que pode possuir um tronco comum proveniente de raízes religiosas e folclóricas.
A origem desta prática remonta a costumes ancestrais de Portugal e envolve uma mistura de crenças cristãs e pagãs, relacionadas ao culto dos mortos e à solidariedade com os mais pobres.
Existem em todo o mundo celebrações do culto dos mortos que têm como particularidade a oferta de produtos alimentares diversos. Quase toda a América Latina tem ritos similares lindos a tradições semelhantes, sendo disso expoente máximo o Dia de Los Muertos, uma festa nacional no México, bem retratada no filme de animação Coco.
O Dia de Todos os Santos foi instituído pela Igreja Católica para celebrar todos os santos, conhecidos e desconhecidos, e sempre teve uma forte ligação com o culto aos mortos. A celebração de 1º de Novembro é sucedida pelo Dia dos Fiéis Defuntos, em 2 de Novembro, que é um dia de homenagem aos mortos. Nessas datas, é comum que famílias se reúnam e façam oferendas, como velas e flores, para honrar as almas dos que já partiram.
A tradição do Pão por Deus tem raízes solidárias. Em várias regiões de Portugal, desde tempos antigos, era comum os mais pobres pedirem comida de porta em porta, e os mais abastados partilharem pão, frutas, frutos secos e, posteriormente, doces. Esta prática também está associada a rituais de partilha em tempos de colheita, especialmente nas zonas rurais, como forma de agradecimento e de atração de boas colheitas futuras. Assim, o Pão por Deus passou a simbolizar generosidade e partilha entre os membros da comunidade.
A tradição terá ganho ainda mais força após o grande terramoto que devastou Lisboa a 1 de Novembro de 1755. Depois da tragédia, muitas famílias perderam casas e bens e passaram a viver em condições de extrema necessidade. Nesse contexto, as crianças saíam pelas ruas a pedir o Pão por Deus, e os sobreviventes da tragédia recebiam pão e outros mantimentos dos que tinham mais condições. Esse ato solidário terá consolidado o costume, que passou a ser repetido anualmente, especialmente entre as crianças.
Hoje, a tradição ainda persiste em várias regiões de Portugal, especialmente nas zonas rurais e suburbanas. No Dia de Todos os Santos, as crianças saem à rua, batendo de porta em porta entoando “Pão por Deus”, esperando receber pão, doces, nozes, castanhas, figos e outros mimos.
Com o tempo, o Pão por Deus ganhou até mesmo elementos que o aproximam da celebração de Halloween noutros países (tradição que pode ter um tronco comum à celebração dos mortos), mas sem perder sua essência de solidariedade e de preservação de um costume que remete às raízes da cultura portuguesa.